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sexta-feira, 25 de março de 2011

Curta ( Visita Intima)

Visita Íntima


O documentário de Joana Nin retrata a luta íntima, sofrida e diária das mulheres brasileiras que tem um amor encarcerado, mulheres que insistem num relacionamento cheio de privações e humilhações e que são alvos de discriminação da sociedade.

Ao longo da história a desvalorização da mulher enquanto, identidade do feminino esteve enraizada na diferença sexual, na diferença biológica. A existência de gêneros é a manifestação de uma desigual distribuição de responsabilidades que são alheias as vontades das pessoas. Estabelece-se a separação do espaço público e o privado, em que a mulher situava-se no espaço privado, a intenção é defender uma cultura falocentrica.

As mulheres vão se tornar cativas do seu próprio corpo na medida em que passam a obedecer a uma feminilidade ditada pela natureza, assim o que somos vai se construindo através da relação com os outros e com o mundo.

            Nessa relação entre gêneros ocorre uma definição de função e de papel, em que a mulher será a mãe, esposa, mulher e guardiã da casa e dos filhos, esses papéis estão evidentes no documentário, não só no que remete aos papeis da mulher (submissão ao homem), mas na estrutura normativa do Direito, ou seja, o sistema penitenciário previsto apenas para os homens (pois a visita íntima para as mulheres encarceradas ainda é restrito para alguns presídios) este é o resultado de um longo processo histórico de discriminação.

As falas das entrevistadas refletem primeiramente sua inserção nas classes subalternas, refletindo nesse momento o modelo excludente e desigual da sociedade capitalista, comprovando-se que a população carcerária em sua maioria é composta pelas camadas que estão à margem da sociedade, os que recebem os mínimos sociais através de políticas públicas moldadas pelo neoliberalismo e gerenciadas pelo Estado, assim reproduzindo a pobreza.

 Outro ponto que vale ressaltar é a busca da felicidade, uma vez que esta se encontraria neste homem encarcerado “o homem que está preso, que sofre, são os melhores na cama e os que dão mais valor a mulher”. Sonham com o dia em que serão felizes quando o seu companheiro sair da cadeia bem como o dia em que serão livres, pois estas se encontram aprisionadas. Essas mulheres insistem num relacionamento cheio de limitações, pois afirmam ser valorizada e bem amada e quando estão em seu momento íntimo com seu companheiro afirmam exercer o seu “papel de mulher”. O comportamento destes homens presos diferencia-se da grande maioria que estão “livres” são aqueles que mandam cartas quilométricas, que são românticos, sensíveis e querem um relacionamento para toda a vida. Será que essa postura não é fruto da prisão sofrida?

É interessante observar a opção dessas mulheres por um amor encarcerado, visto que esses amores trazem uma gama de obstáculos, limitando sua vida social e econômica, porém a segurança que esses presos passam se dão através das limitações no convívio social, permitindo com isso a sustentabilidade desse relacionamento renovado a cada encontro e incentivador da luta árdua e diária dessas mulheres,já que teoricamente essas mulheres são as "únicas".


Será realmente que esse amor inventado, perfeito é real? Ao escolher, essas mulheres optaram por uma realidade que impõe limites e possibilidades, é um momento psicológico seu, pessoal. As influências externas, tudo que você já valoriza tudo o que você deseja e tudo que você deseja, mas não sabe que deseja, resultam numa grande síntese, resulta em uma escolha. Esse amor inventado obviamente, são flores de plástico numa retórica postiça.

Luciana Cerqueira